Poeta, escritor, ritmista, cantor, puxador, compositor, produtor e, acima de tudo, figura fundamental do samba carioca e brasileiro, Martinho da Vila é um sinônimo do gênero. • Nascido no interior do estado do Rio de Janeiro em 1938, Martinho José Ferreira se mudou com os pais para a capital aos quatro anos. Criado no subúrbio, se interessou pelo samba desde muito jovem e começou a compor nas horas vagas, enquanto trabalhava como contador e datilógrafo do Exército, entre o fim da década de 50 e boa parte da década de 60. • Martinho decidiu se inscrever nos festivais da TV Record de 1967, com a faixa “Menina Moça”, e de 1968, com “Casa de Bamba”. As duas músicas traziam elementos das religiões de matriz africana e do cotidiano dos subúrbios cariocas, e fizeram sucesso nas rádios do país. • Um dos responsáveis pela popularização do partido alto, estilo que se caracteriza pelos refrãos cantados em coro e estrofes cantadas solo, Martinho também incorporou elementos de cirandas e músicas folclóricas em suas composições, como em “Onde o Brasil Aprendeu a Liberdade”, do álbum Batuque na Cozinha ,de 1972. • Os pontos de candomblé e de outras religiões afrobrasileiras se estenderam por toda a discografia de Martinho, como “Som Africano”, do álbum Origens (Pelo Telefone), de 1973, cantada num dialeto africano, e em “Festa de Umbanda”. Já as tradições rurais de seus sambas-enredo marcam presença em “Folia de Reis” e “Linha do Ão”. • Engajado na luta pela igualdade racial e pela afirmação da identidade negra, Martinho reflete essa busca em boa parte de sua discografia. Um de seus principais sucessos, “Canta Canta, Minha Gente” é um sopro de positividade para um povo historicamente oprimido. • As músicas românticas também são uma especialidade de Martinho, que criou faixas como “Disritmia”. Sua cadência mais lenta, a voz adocicada e a levada mais dengosa se encaixaram perfeitamente no gênero. • A “vila” que dá nome a Martinho é a escola de samba carioca Unidos de Vila Isabel, da qual foi o principal autor de sambas-enredo ao longo dos anos 60 e 70. • Em 1988, ele compôs “Meu Homem”, faixa gravada por Beth Carvalho e que fala da luta de Nelson Mandela contra o Apartheid. O tema inspirou o enredo “Kizomba, Festa da Raça”, criado por Martinho para a Vila Isabel especialmente para o desfile de 1988, ano em que a escola ganhou o inédito título de campeã do carnaval carioca.