Relembrar a trajetória de Elizabeth Santos Leal de Carvalho é passear pela história do ritmo brasileiro mais conhecido em todo o mundo. Nascida em 1946, a carioca cresceu sob a influência de cantoras do rádio como Marlene, Emilinha Borba, Clementina de Jesus e Elizeth Cardoso. E ainda que vivesse no berço da Bossa Nova, na Zona Sul do Rio de Janeiro, Beth Carvalho andava na contramão do ritmo com um grupo de compositores influenciados pelo baião de Luiz Gonzaga. Foi no apartamento dela que Edmundo Souto, Danilo Caymmi e Paulinho Tapajós criaram “Andança”, um dos símbolos do movimento denominado toada moderna. A composição, interpretada por Beth no III Festival Internacional da Canção, em 1968, projetou-a nacionalmente e deu nome ao seu primeiro álbum solo, lançado em 1969. Mas o samba só viria a se tornar sua marca nos três trabalhos seguintes, Canto Por Um Novo Dia (1973), Pra Seu Governo (1974) e Pandeiro e Viola (1975). Famosa, bem relacionada e sem estrelismo, Beth circulava pelos meios musicais da Zona Sul à Zona Norte, e foi assim que reviveu a poesia de Cartola: fazendo uma visita à casa do compositor que, na época, estava esquecido pelo grande público. O encontro trouxe à tona “As Rosas Não Falam”, gravada em 1976. Em 1977, quando lançou Nos Botequins da Vida, seu nome já era um dos maiores do samba, ao lado de Alcione e Clara Nunes. Em 1978, decidiu levar às gravadoras o som feito nas rodas e festas do bloco carnavalesco Cacique de Ramos. Lá, os compositores misturavam novos instrumentos ao samba, usando tantã, banjo com afinação de cavaquinho e repique adaptado para tocar na mão. Acompanhada pelo grupo Fundo de Quintal, Beth Carvalho colocou o pagode carioca no mainstream com o álbum De Pé no Chão, que trazia a poderosa “Vou Festejar” – um feito que mudou para sempre o gênero. Ao longo de 50 anos de carreira, Beth Carvalho seguiu revelando uma legião de grandes compositores, cantores e ritmistas como Jorge Aragão, Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz. Ao todo, lançou 34 álbuns que contam a história da música brasileira, sendo reconhecida com 17 discos de ouro, nove de platina e o título de madrinha do samba.