Quando o vocalista Chorão gritava ao microfone ter vindo de Santos, no litoral paulista, não era um bairrismo exagerado. Nos anos 90, a cidade tinha algo de Califórnia brasileira, com cenários urbanos e praianos na mesma paisagem. As tribos de surfistas e skatistas estavam eufóricas com a efervescência do rock norte-americano da época, do groove do Red Hot Chili Peppers à artilharia pesada do Rage Against the Machine. Foi essa euforia que o paulistano Alexandre Magno Abrão encontrou quando se mudou para a Baixada Santista aos 17 anos, e quis reproduzir no Charlie Brown Jr. – amparado por músicos que também injetavam ska e hip-hop na mistura. Entre a rebeldia (“O Côro Vai Comê”) e as paixões difíceis (“Proibida Pra Mim (Grazon)”), a estreia do grupo, Transpiração Contínua Prolongada (1997), subiu a serra e mexeu com a juventude brasileira que não se reconhecia nas letras do rock oitentista do país. Como letrista, Chorão esmiuçava as angústias sentimentais e a inquietude social sem floreios e metáforas. Preço Curto, Prazo Longo (1999) estabeleceu o grupo de vez no cenário nacional, no qual reinou durante os anos 2000, ancorado pela dualidade entre a revolta de “Confisco” e o amor do hit “Te Levar”, tema de abertura da novela Malhação, da Rede Globo, até 2006. A intensidade de Chorão aparecia também na forma com que conduzia o Charlie Brown Jr., do ápice com o Acústico (2003), um marco na carreira do grupo, à debandada dos integrantes da formação clássica (o baixista Champignon, o guitarrista Marcão e o baterista Pelado), em 2005. Não é por acaso que as músicas do Charlie Brown Jr. são procuradas até hoje, mesmo após a morte do vocalista em 2013, e o fim da banda. Entre rebeldia e amores impossíveis, os jovens se identificam com versos que tratam das próprias inquietudes e frustrações, cantadas por alguém que as viveu intensamente – como Chorão definiu em “Champanhe e Água Benta”: “Nem tão complicado demais, mas nem tão simples assim”.