Nos anos 70, um encontro mudaria a história do samba para sempre. Foi em uma das rodas de samba mais famosas do Rio de Janeiro que o acaso uniu Beth Carvalho e Fundo de Quintal. Eles, com seus instrumentos inovadores e um samba pra lá de diferente do tradicional, encantaram a intérprete com harmonias que serviram de base para uma das maiores vertentes modernas do gênero: o pagode. • A origem do grupo Fundo de Quintal está intimamente ligada à criação do bloco carnavalesco Cacique de Ramos, um dos mais tradicionais no Rio de Janeiro. A agremiação de Olaria, bairro do subúrbio carioca, começou com partidas de futebol e rodas de samba no quintal das famílias dos sambistas Bira Presidente, Ubirany e Sereno, que fundaram o bloco em 1961. • Com uma tradição que não se limitava aos festejos de Carnaval, o espaço tornou-se um ponto de encontro da boemia com seus sambas de partido-alto, gênero popular nos morros e subúrbios do Rio de Janeiro na primeira metade do século 20. Reunindo compositores desconhecidos e celebridades, a agremiação rapidamente transformou-se num laboratório de criação por onde passaram ícones da música brasileira como Zeca Pagodinho, Marquinhos Satã, Jovelina Pérola Negra e Dona Ivone Lara. • Antes de ficarem conhecidos, os músicos do bloco carnavalesco já haviam feito uma das maiores revoluções do samba moderno. Foi ali que Sereno, Ubirany e Almir Guineto, que mais tarde integrariam o Fundo de Quintal, adaptaram instrumentos clássicos e criaram o tantã, o repique de mão e o banjo de quatro cordas. • Na década de 70, Beth Carvalho trilhava uma carreira de sucesso quando conheceu o som feito em Olaria. Encantada com o ritmo inovador que nascia ali, a intérprete convidou os sambistas para participarem de seu novo trabalho de estúdio, De Pé no Chão (1978), álbum fundamental para a história e a transformação do gênero. • O sucesso comercial da parceria com Beth Carvalho estimulou os sambistas a se unirem no Fundo de Quintal. Jorge Aragão (violão), Almir Guineto (banjo), Sombrinha (violão de sete cordas) e Neoci (percussão) integraram o grupo com os fundadores da Cacique de Ramos, Bira Presidente (pandeiro), Ubirany (repique de mão) e Sereno (tantã). • Com o primeiro álbum de estúdio, Samba É no Fundo de Quintal (1980), eles entraram de vez para a história. O trabalho reúne composições de bambas como Tio Hélio, Rubens da Silva, Neguinho da Beija-Flor e Dona Fia, fundadora da escola de samba Salgueiro. • Álbuns como Nos Pagodes da Vida (1983), O Mapa da Mina (1986), e O Show Tem Que Continuar (1988) fundaram os alicerces do pagode com músicas como “Enredo do Meu Samba”, “Só Pra Contrariar” e o hino “O Show Tem Que Continuar”.