Dez anos que mudaram o mundo para sempre. Evitar hipérboles é uma missão quase impossível quando o assunto é The Beatles. No período em que estiveram juntos, John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr transformaram o rock de três minutos em obra de arte, criaram modelos de comportamento e derrubaram as barreiras entre o popular e a ousadia musical. Como definir, sem exageros, uma banda que lapida o pop perfeito em “Love Me Do” e elabora a construção psicodélica de “Strawberry Fields Forever”? Formado em 1960, o grupo passou mais de um ano tocando covers em bares e pequenas casas de shows entre Liverpool, casa dos cinco integrantes originais (na época o grupo contava com Pete Best, que daria lugar a Ringo na bateria, e Stu Sutcliffe no baixo), e Hamburgo, na Alemanha. Com o lançamento de Please Please Me (1963), a banda – já com a formação clássica – mostrou que a pressa do empresário Brian Epstein para estrear era justificada - e com “She Loves You”, o quarto single do grupo, a “beatlemania” já era uma realidade. Mesmo no início da carreira, Lennon e McCartney, os dois principais compositores do quarteto, já se mostravam inquietos dentro dos confinamentos do rock bubblegum que atraía adolescentes para estádios lotados. Em meados dos anos 60, os Beatles haviam se tornado um símbolo da contracultura, adotando – implícita e explicitamente – assuntos como drogas, expansão da mente, espiritualidade e amor livre, além de ditar a moda e o comportamento dos jovens. Não que isso tirasse o foco da banda na música. Ao lado do produtor George Martin, os quatro rapazes amadureceram musicalmente, abraçaram influências orientais e exploraram os limites do estúdio como instrumento sonoro, principalmente entre Revolver (1966) e o The White Album (1968). Desmotivados pela histeria cega dos fãs, os Beatles se afastaram dos palcos e fissuras começaram a aparecer na estrutura da banda de rock mais importante do planeta. Abbey Road (1969) e Let It Be, este último lançado já depois da implosão do quarteto, mostraram uma banda ainda com um potencial sonoro ilimitado, porém impossível de ser alcançado devido a tanto ego e pressão.