Raramente um artista que desafia profundamente as noções de gênero é tão premiado e reconhecido quanto foi Chick Corea, pianista e compositor falecido em 2021, aos 79 anos. Nascido Armando Anthony Corea, o homem que mais tarde ficou conhecido como Chick começou a carreira tocando nas bandas de Herbie Mann e Stan Getz, antes de se juntar a Miles Davis no fim dos anos 60 e início da era do jazz fusion. Mas aquela condução do jazz em direção ao rock – o piano inovador de Corea, junto ao teclado de Joe Zawinul, foi tão importante para a sonoridade de Bitches Brew (1970) quanto o trompete de Miles – marcou o começo de uma longa carreira de experimentações entre gêneros. Fosse com suas próprias bandas (entre elas Return to Forever, Circle e Chick Corea Elektric Band), com seu parceiro de improviso (o vibrafonista Gary Burton) ou com diversos outros colaboradores, Corea escreveu o que se tornariam as normas do jazz, incorporando elementos do folk, rock, funk, música brasileira, espanhola e muitos outros estilos. Por isso, talvez não seja uma surpresa a influência de Chick ir muito além do universo do jazz: artistas do hip-hop e da música eletrônica, como Flying Lotus, Eric B. & Rakim e G-Eazy, devotam a ele a mais alta admiração ao samplear sua obra.