Espécie de prodígio russo, Dmitri Shostakovich foi um artista que efetivamente se tornou a consciência da música soviética. Ele nasceu em 1906, filho de pais músicos, entrou no Conservatório de Petrogrado aos 13 anos e chamou a atenção do diretor da instituição. Depois da Revolução de 1917, Shostakovich ajudava nas despesas da família como pianista de sala de cinema, acompanhando filmes mudos. As vinhetas vibrantes e os cortes bruscos desses filmes se refletem nas suas primeiras obras, como a Sinfonia Nº 1 (1925), que ele completou aos 19 anos e foi logo adotada por orquestras do mundo todo. Em 1936, o governo stalinista fez uma crítica feroz à ópera Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk, então um sucesso de público. Isso soou como uma ameaça velada e teve um profundo impacto em Shostakovich. A Sinfonia Nº 5 (1937) e as obras seguintes têm uma fúria e uma angústia que ele não podia expressar em público, ainda que também tenham momentos de sarcasmo, ironia e referências ousadas à sua própria vida pessoal. Às vezes ele desafiava mais diretamente as autoridades soviéticas. A Sinfonia Nº 13 (1962), conhecida como “Babi Yar”, adapta poemas de Yevtushenko que homenageiam os judeus mortos no massacre homônimo na Ucrânia durante a Segunda Guerra e criticam o governo soviético pela manipulação da população. Apesar disso, Shostakovich foi homenageado oficialmente no país como um “grande artista soviético” quando morreu, em 1975.